Curso Residência Agrária da UnB: Matrizes Produtivas da Vida no Campo

A definição de construção do blog do Residência Agrária da UnB é decorrente da avaliação de que se trata de um instrumento importante de comunicação em diversos níveis, a saber: entre a coordenação do curso e os estudantes residentes; entre os movimentos sociais e associações que existem nos territórios em que atuamos, com os residentes e a Universidade de Brasília; entre o nosso curso de especialização em Residência Agrária com os demais 34 Residências de especialização e com a nova leva de mais de trinta Residências Jovens que entrarão em campo em 2015; entre os movimentos sociais, as universidades, e o governo brasileiro.

O pressuposto de nossa dinâmica de atuação é que a universidade cumpre sua função social quando reconhece no estudante residente um profissional mediador da relação entre as forças coletivas que atuam nos territórios e a universidade. Ou seja, entendemos que a universidade potencializa sua forma de atuação quando se torna mais exógena que endógena, quando se empenha em contribuir para fortalecer os processos produtivos e organizativos fora dela, e não apenas se apropria de dados da vida externa para sistematiza-lo em formatos acadêmicos, em geral, autocentrados e herméticos ao público externo à academia.

Portanto, pretendemos, por meio do blog, manter vivas as informações do que ocorrem nos oito Núcleos Territoriais em que atuamos, dando notícia da construção das oito Escolas Itinerantes de Formação (EIFs), tarefa definida coletivamente pela turma com a coordenação com base nos diagnósticos realizados nas primeiras etapas do curso.
Pretendemos também manter frequente divulgação dos seminários, palestras e cursos que o Residência Agrária da UnB oferta para a comunidade da UnB e para a sociedade em geral, como os seminários Conexões, as mostras de artes teatrais e audiovisuais, dentre outras atividades.

Com a socialização de nosso processo de trabalho pretendemos compartilhar não somente os acertos metodológicos, teóricos e políticos, mas, também, os limites das propostas formuladas, os equívocos e os impasses, na expectativa de que a troca de experiências com outros cursos formais de universidades parceiras, e cursos não formais coordenados por movimentos sociais, como àqueles ofertados pela Escola Nacional Florestan Fernandes, possam colaborar para a resolução das questões que enfrentamos. Portanto, convidamos a todas e todos a comentarem, a participarem, questionarem, proporem, criticarem, para que esses espaço se construa como um produtivo fórum de debate.

Coordenação do Residência Agrária da UnB

Caderno 5: Residência Agrária:experiências de agroecologia e cultura no campo

O novo caderno escrito por professores e educandos do “Curso de Especialização Residência Agrária: Matrizes produtivas da vida no campo: formação em cooperação, agroecologia e cultura com ênfase na organização social” já está disponível nos formatos: epub, mobi e também em formato pdf. —->>> Corre lá no menu de Produções Acadêmicas e confira os 5 cadernos. Boa Leitura!

Todos os livros foram promovidos pelo grupo de pesquisa Modos de Produção e Antagonismos Sociais (MPAS) em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), no campus de Planaltina da Universidade de Brasília (FUP/UnB).

Homenagem do MST a Nelson Xavier

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra rende homenagens à Nelson Xavier, um dos mais importantes nomes do teatro brasileiro do século XX. Protagonista da cena teatral desde os anos 1950, Nelson Xavier integrou o elenco do Teatro de Arena, e foi autor, em conjunto com Augusto Boal, Dalton Trevisan e Modesto Carone, da primeira peça do teatro brasileiro em que a luta camponesa pela terra assume o protagonismo da cena, “Mutirão em Novo Sol”.

Em busca do contato direto com o público das classes populares, Xavier saiu do Arena e se envolveu com o setor teatral do Movimento de Cultura Popular (MCP) de Pernambuco, o mesmo movimento em que atuava Paulo Freire e em que foi construída a proposta da Pedagogia do Oprimido.

Quando o golpe foi deflagrado em 1964 e o prédio da UNE foi atacado, no Rio de Janeiro, Nelson trabalhava como diretor à convite do CPC na estréia da peça “Os Azeredo mais os Benevides”, de Vianinha. Nelson foi um dos pilares do projeto de articulação de classes que envolvia artistas, estudantes, professores, operários e camponeses. É um símbolo de um projeto popular do Brasil que poderíamos ter nos tornado, caso fossem adiante as Reformas de Base, pelas quais lutavam.

Infelizmente, a memória do trabalho de Nelson Xavier como ator de telenovelas da Globo ou de filmes nacionais é o foco exclusivo dos epitáfios nos telejornais e jornais da mídia empresarial. Nada se diz do homem que se empenhou na socialização dos meios de produção da linguagem teatral para a classe trabalhadora, no dramaturgo que retratou a luta de classes brasileira a partir do ponto de vista dos de baixo, contra aqueles que sustentam a desigualdade.

Em agosto de 2012, mais de meio século após a estréia de “Mutirão em Novo Sol”, Nelson Xavier esteve à convite do MST em evento que reuniu cerca de cinco mil camponeses, quilombolas, índios, pescadores e seringueiros em Brasília, para assistir à montagem da peça, encenada por elenco misto da Brigada Nacional de Teatro do MST e do Coletivo Terra em Cena, da Universidade de Brasília. Ao final, Nelson subiu ao palco, e ao lado dos atores, disse estar imensamente feliz por ver que teve sentido a sua luta, a sua vida, ao ver a capacidade de comunicação da peça e as questões que aborda, para aquele público, cinquenta anos após. Como nos escreveu o próprio Nelson na ocasião da reedição do livro “Mutirão em Novo Sol”, pela Editora Expressão Popular: “MST, foram vocês que me fizeram entender que este texto ainda está vivo.[…]”, a obra, o trabalho e o legado de Nelson Xavier, permanecem vivos naqueles que fazendo Arte lutam pela construção de um país mais justo e igualitário.

Levaremos adiante o projeto de construção de um projeto popular para o Brasil!

Nelson Xavier! Presente! Presente! Presente!

Programa Revoluções na TV Comunitária de Brasília

No último dia 16/12/2016 houve a estreia do programa Revoluções na TV Comunitária de Brasília


Mesclando formato documental com linguagens artísticas, o programa pretende fazer uma cobertura das lutas sociais travadas atualmente no país, buscando um enfoque estrutural das questões, para além das emergências impostas pela conjuntura atropelada que se instalou no Brasil desde o golpe de Estado.

Em face à conjuntura regressiva, “Revoluções” busca identificar nas contradições da luta a emergência potencial de uma nova cultura política, capaz de se contrapor à crise do capitalismo. Recolocar em pauta a questão da Revolução será um dos objetivos do programa, para além do enquadre nacional, abordando as experiências revolucionárias que insurgiram no século XX.

Na peça de estreia do programa Revoluções, o debate é alimentado, por exemplo, pelos entrevistados que interagem com o repórter Agostinho a partir do questionamento “eleição ou revolução?”. Ou pelas meninas que se reúnem para debater sobre feminismo e assistir ao documentário “Lute como uma menina” das escolas ocupadas pelas secundaristas em SP.

O programa é produzido pelo Coletivo Terra em Cena, que desde 2010 trabalha com a linguagem teatral e audiovisual no curso de Licenciatura em Educação do Campo (Ledoc), do campus de Planaltina da Universidade de Brasília (UnB).

Link para o programa [Aqui
A intenção de coletivo é organizar uma rede de colaboradores, envolvendo coletivos teatrais e de produção audiovisual, movimentos sociais, grupos de pesquisa, conforme dinâmica da Rede Teatro e Sociedade, que o Terra em Cena integra.

O formato do programa está em construção!

Nesse primeiro programa houve a colaboração de dois coletivos, a Frente Palavras Rebeldes do MST e o Coletivo Calcanhar de Aquiles, de Brasília.

Fortes abraços!
Coletivo Terra em Cena

Feira Cultural da Reforma Agrária e a construção do poder popular

Uma das características do poder hegemônico é fazer com que o modo de produção dominante seja aceito por todos como o melhor ou, ao menos, o inevitável. Para isso é necessário investir pesado em publicidade, em poder repressivo, em desqualificação das experiências que representam projetos de sociedade contrários ao seu.

Apesar dos milhares de reais que o agronegócio investe em campanhas de legitimação de seu modo de produção, como na campanha Sou Agro, que procura vender a ideia que vivemos todos numa imensa e moderna fazenda chamada Brasil, tem se tornado cada vez mais difícil defender um modo de produção que nos torna o país que mais consome agrotóxico no mundo, que desmata em alta velocidade os biomas, tornando a paisagem monocromática e uniforme com os monocultivos de commodities agrícolas, que tem sido responsável pela diminuição da vazão dos rios e pela crise de abastecimento hídrico nas cidades, e que depende permanentemente dos subsídios bilionários do Estado para que o setor siga sobrevivendo.

Em contraponto a esse modelo destrutivo, excludente e desigual, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra tem investido na realização de Feiras da Reforma Agrária nos centros urbanos, permitindo o acesso à classe trabalhadora de alimentos diversificados, produzidos sem agrotóxico, e mais baratos do que aqueles de menor qualidade e vendidos em supermercados.

O efeito de desmonte dos estereótipos que carimbam a luta do MST como “inconsequente” e “violenta” é imediato, na medida em que aqueles que transitam pela feira percebem o casamento entre atividades culturais qualificadas, debates e oficinas que visam democratizar o conhecimento de amplo repertório de temas de interesse da vida democrática – a democratização da cultura e da comunicação, a alimentação saudável e o que a cidade come, o debate sobre o papel da mulher na sociedade e as formas de violência, a conjuntura nacional e a reforma agrária – e o contato direto com os camponeses assentados e acampados que produzem e beneficiam os alimentos e artesanatos vendidos na feira.

Como sair de um espaço como esse acreditando que os militantes do MST são baderneiros? Como acreditar na ladainha da TV de que a reforma agrária é uma bandeira ultrapassada, superada pelo agronegócio?

Em Planaltina, a cidade mais antiga do Distrito Federal, o MST realizou a primeira das feiras previstas no 1º Circuito de Feiras e Mostras Culturais do Distrito Federal e Entorno, que seguirá por Formosa (GO), Brazlândia (DF) e Unaí (MG). Em todas elas a cultura política proposta pela Reforma Agrária Popular integrará a produção artística à produção de alimentos saudáveis e promoverá debates e oficinas com o intuito de aproximar o público do campo e da cidade, reconhecendo na luta do povo o protagonismo da resistência civil que pode fazer frente ao golpe midiático-parlamentar-jurídico que estamos vivendo.

No dia 11 de dezembro de 2016, um domingo pela manhã, enquanto famílias faziam a feira conhecendo a produção dos assentamentos, cerca de cinquenta pessoas,  camponeses, jovens estudantes, professores, e militantes de movimentos sociais urbanos, participavam ativamente de debate sobre “O papel das mulheres na sociedade e as formas de violência”, assessorado por Mariana, uma militante do Levante Popular da Juventude e por Rosmeri, da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST. Metade dos presentes era formada por homens, e discutiam as maneiras de envolvimento na luta feminista, se o objetivo comum entre homens e mulheres é lutar contra o patriarcado e pela construção do poder popular, capaz de fazer frente ao avanço destrutivo da mercantilização da vida.

Com as feiras o MST permite que a cidade compreenda que a reforma agrária não é uma pauta do passado, que o debate sobre produção de alimentos saudáveis é uma questão de segurança e soberania alimentar, que a luta popular é legítima e que deve dispor dos seus próprios meios artísticos e de comunicação para se fazer representar, e que temos experiências acumulada nos movimentos sociais de massa do campo brasileiro para se somar com os movimentos urbanos e engrossar o caldo da resistência popular ao golpe e fortalecer as providências necessárias à construção do poder popular.

Rafael Villas Bôas

Professor do campus de Planaltina da UnB

Pesquisador dos grupos Modos de Produção e Antagonismos Sociais e

Terra em Cena: Teatro, Audiovisual e Educação do Campo

Dissertação de mestrado, sobre a acumulação de capital pelas cooperativas empresariais do Paraná

Recentemente foi notícia nacional que 17 cooperativas do agronegócio do PR estavam entre as maiores empresas do Brasil e várias atingiram, no ano passado mais de 1 bilhão de reais de faturamento. Em conjunto faturaram mais de 60 bilhões de reais.
As notícias exaltavam a força do agronegócio e das cooperativas.
Para contribuir a esclarecer o processo que levou a esses dados, no link abaixo está a dissertação do Raoni Azeredo, orientada pelo Professor Pedro Ivan Christoffoli. Onde buscou analisar criticamente a evolução da principal cooperativa paranaense, que é também a maior do Brasil e da América Latina.
O mestrado em questão é o de Desenvolvimento Territorial na América Latina (área Geografia) da UNESP, em parceria com a Via Campesina e ENFF.
Acesse: Aqui

Golpes: a permanência autoritária na política brasileira

Manoel Dourado Bastos, Miguel Enrique Stédile e Rafael Villas Boas*

O Golpe de Estado é a única instituição confiável no Brasil: no século XX foi empregado diversas vezes e em 2016 já convivemos com a primeira edição do século XXI. O STF pode ser moroso, o MPF é seletivo e o Congresso, corporativo. Mas o Golpe de Estado se destaca por sua infalibilidade. Em qualquer momento que suspeitem-se de aspirações democráticas, em que a correlação de forças não penda para a minoria privilegiada, sempre haverá um golpe a ser sacado pela classe dominante, como carta na manga. Florestan Fernandes definiu o processo conservador da modernização periférica brasileira como um ciclo permanente de contrarrevoluções preventivas.

O pré-golpe pode ser confuso. Invocam-se valores, bandeiras e camisetas nacionais, quando, na verdade, se propõe a subordinação econômica e política à interesses internacionais, como a entrega do pré-sal para petroleiras e lobbys privados. Se invoca o apartidarismo, quando são os fundos partidários que financiam carros de som e bandeirinhas. Ali estão os investigados da Lava-Jato defendendo o fim da corrupção. O grampo e o vazamento ilegal são permitidos porque são em defesa da democracia e dos direitos. É preciso combater a corrupção, pois ela consome os nossos impostos. Impostos como aqueles que o sócio da FIESP, financiadora dos protestos, não paga. O pré-golpe pode ser obtuso.

Mas o golpe, não. Este é transparente. Após a abolição da escravatura, numa perfeita analogia, Machado de Assis escreveu que a “escravidão levou consigo as máscaras”. Se referia as máscaras usadas para penitenciar os negros escravizados, mas também as máscaras de uma sociedade que se dizia liberal e admirava  a “liberdade, a igualdade e a fraternidade”, mas não via problema algum em escravizar outro ser humano, um “menos igual” que não merecia a nossa irmandade como humano. O golpe também nos permite desfazer das máscaras: sem o disfarce da ideologia, nos deparamos com o espetáculo da desfaçatez da dominação, frente a frente.

Às favas com os escrúpulos, teria dito Jarbas Passarinho na sessão que aprovou a criação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968. “Às favas com os escrúpulos” é a palavra de ordem dos golpistas. Em qualquer época. Em qualquer golpe.

E não é preciso que o golpista suje as mãos. Basta insinuar. Quando secretarias e ministérios que tratam de direitos humanos, negros e mulheres são extintos – setores também ausentes de um ministério cujo primeiro critério é agradecer os votos do impeachment e o segundo é garantir foro privilegiado – assim como pastas para a agricultura familiar e programas sociais, o governo sinaliza qual o lugar que eles devem ocupar nesta sociedade: nenhum.

E o que sinaliza a nomeação do Ministro da Justiça? Se não vejamos: Alexandre de Moraes é conhecido por ter sido parte do governo de São Paulo – aquele que liberava catracas do metrô para atos pelo impeachment – e considerava atos contra o impeachment como “ações guerrilheiras”. Uma de suas últimas ações como Secretário foi ordenar a desocupação de escolas públicas, sem mandato, pela polícia militar paulista contra uma horda de selvagens e perigosos… adolescentes, estudantes secundaristas.

Basta o gesto para sinalizar aos demais que antipatizam com direitos e democracias para que a senha seja entendida. Em Goiás, integrantes do MST estão presos, acusados de apologia ao crime. O crime, no caso, é organizar famílias para ocupar uma fazenda de um senador cearense em Goiás, cujo valor misteriosamente é muito superior aos ganhos e patrimônios do mesmo. No Pará, terra da impunidade e da violência no campo, a Polícia Militar convoca seus integrantes para o “I Curso de Intervenções estratégicas em movimentos sociais”, para apropriar-se do “emprego de ações preventivas e repressivas” frente a estes movimentos. Não a toa. Afinal, a Polícia que assassinou 19 trabalhadores rurais sem terra, com ônibus financiados pela Vale do Rio Doce, misturando jagunços em seu efetivo e sem nenhuma identificação, tem o know-how necessário para estes tempos.

Todavia, apesar de na aparência a coisa toda parecer esdrúxula, mal ajambrada, a manobra vai se consolidando. Por trás da aparência de precariedade, que confere certo ar de amadorismo, de impulso espontâneo, há já devidamente desvendado, um procedimento de cartilha em aplicação no Brasil, testado anteriormente, na América Latina, ao menos em Honduras e no Paraguai. O tal do golpe branco, ou golpe democrático, que derrubou os governos eleitos do hondurenho Manuel Zelaya e do paraguaio Fernando Lugo. Um método que tem se mostrado bem sucedido no desmonte do sistema democrático do único país do continente americano que integra o bloco dos BRICS. Isso ocorre enquanto, simultaneamente, outros dois países do Bloco, Rússia e África do Sul, também padecem de manobras de desestabilização de seus governos[1].

A capacidade da elite brasileira importar modas das metrópoles adequando-as às suas convenções e interesses permanece muito eficaz: desde o atentado de 11 de setembro de 2001 e da reação do governo estadunidense com o Ato Patriótico, a direita brasileira tenta de forma oportunista se aproveitar do clima de pânico causado pelo terrorismo para convencer a população brasileira de que é necessário adotar medidas preventivas contra esse tipo de ataque em nosso país. Mas o alvo da direita é outro: querem considerar os movimentos sociais brasileiros como movimentos terroristas, como meio de judicialização e prisão àqueles que executarem ações radicais contra a expropriação de direitos da classe trabalhadora.

A doutrina da Lei de Segurança Nacional, que justificava a repressão arbitrária contra cidadãos do país, supunha o combate ao inimigo interno, movimentos comunistas e socialistas. Novamente,  agora sob o nome de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), se reedita com força no momento de instauração do golpe o discurso de que a ameaça de estabilidade do país vem dos movimentos sociais de massa com capacidade nacional de luta mediante o emprego de diverso repertório de ações diretas.

O alardeado Plano Nacional de Inteligência[2] produzido semanas depois do governo interino assumir é uma das provas incontestes que a manobra regressiva do golpe vinha desde muito sendo planejada por representantes daqueles mesmos setores que desfecharam o golpe de 1964. Até mesmo a figura do alcaguete querem eles recuperar no, supostamente moderno, plano: É importante que as capacidades individuais e coletivas, disponíveis nas universidades, centros de pesquisa e demais instituições e organizações públicas ou privadas, colaborem com a Inteligência, potencializando sua atuação e contribuindo com a sociedade e o Estado na persecução de seus objetivos”.

O estado de exceção vai se estabelecendo com a competente neutralização da capacidade de indignação da classe trabalhadora produzida pela mídia empresarial, no mesmo compasso em que toma providências para fortalecer o aparato repressor reincorporando na vida política nacional representantes do meio militar que, depois de apeados do poder em 1985, não abandonaram a doutrina estadunidense da Guerra Fria, e ansiavam por maior protagonismo na vida nacional. Voltamos a conviver com tipos xerifes do patriarcado de velho oeste, como o general que virou ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que promete proteger a cidade dos bandidos, no caso, os movimentos sociais brasileiros.

No alvo da regressão em curso a educação pública brasileira começa a ser atacada pela mídia golpista como dispendiosa, excessivamente ideológica, pouco eficiente e propostas de privatização do ensino vão ganhando força no mesmo compasso em que proposições autoritárias como o “Escola Sem Partido” ganham os holofotes da imprensa e com isso vai aparecendo como algo discutível, passível de ser aceito.

            O primeiro golpe brasileiro do século XXI é diferente do golpe de 1964, desfechado à cinquenta e dois anos. Sem tanques nas ruas para conter os revolucionários e comunistas, a artilharia da mídia, que primeiro criou um clima de angústia, instabilidade e urgência, agora se empenha na produção de uma atmosfera de normalidade, patriotismo e segurança. Nada melhor do que as Olimpíadas no meio do caminho para, inclusive, assimilar como componente da paisagem urbana, os tanques e soldados fortemente armados: estão a proteger quem de quem?

* Manoel Dourado Bastos é professor no Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina; Miguel Enrique Stédile é coordenador do Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária; Rafael Villas Boas é professor do campus de Planaltina da Universidade de Brasília. Membros do Grupo de Pesquisa Modos de Produção e Antagonismos Sociais (https://modosdeproducao.wordpress.com).


[1]                Sobre o assunto, indicamos dois textos de Pepe Escobar: Brasil e Russia sob ataque. Disponível em: http://blogdoalok.blogspot.com.br; O Brasil como epicentro da Guerra Híbrida.  Disponível em: http://www.viomundo.com.br/politica/pepe-escobar-o-brasil-no-epicentro-da-guerra-hibrida.html

[2]                Decreto nº 8793. Política Nacional de Inteligência, disponível em:

            http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/D8793.htm

PROJETO RESIDÊNCIA AGRARIA JOVEM

FORTALECIMENTO DA JUVENTUDE RURAL – Educação do Campo e Juventude Rural – formação profissional e social a partir das matrizes formativas, associativas, cooperativas, artístico-cultural e da comunicação no campo.

O Projeto Residência Agraria Jovem é resultado das experiências anteriores dos cursos de especialização em Residência Agraria e dos debates acumulados pelos Movimentos Sociais e Universidade de Brasília – Faculdade de Planaltina, sobre a situação da Juventude Rural dos assentamentos e acampamentos da reforma agraria, comunidades rurais e tradicionais do DF e em Goiás.

Os debates identificaram que nas lutas da juventude há um potencial organizativo, produtivo e cultural bastante forte e o projeto chega para reforçar estas lutas e fazer avançar o protagonismo da juventude nos Núcleos Territoriais (NTs) Kalunga (GO), Planaltina (DF), DF Sul e Nordeste Goiano (GO).

Objetivo geral

 Capacitar e formar profissionalmente jovens rurais entre 15 a 29 anos, estudantes do ensino Médio e/ou que já o concluiu, residentes em  comunidades rurais, comunidades tradicionais e assentamentos da reforma agrária, com o intuito de desenvolver competência e capacidade profissional para mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários ao melhor desempenho de sua atuação social nas áreas do associativismo e do cooperativismo, considerando as dimensões produtivas, artística, cultural, social e educativas para uma melhor atuação e intervenção na realidade do território.

OFICINA MONITORAMENTO NT DF SUL

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Nesta Oficina fomos recebidos pelas mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas – MMC no assentamento Antônio Juvêncio, no município de Padre Bernardo – GO. Foi dado ênfase na discussão sobre o tema da cultura, da identidade e da memória e isso contribuiu para entendermos o valor real dessas expressões ao qual aprendemos que cultura envolve muito mais do que apenas crenças ou manifestações artísticas. Isso foi destacado no livro: Cultura, Arte e Comunicação, estudado durante a Oficina.IMG-20150929-WA0014

Também estudamos sobre o tema: Teatro do Oprimido – esse é um tema bem relevante, pois com o teatro aprendemos a  identificar tanto o oprimido como o opressor e a compreender as razões da luta. E como deixar de ressaltar a luta dos assentados e assentadas para conseguir melhorias, que de muitas maneiras, buscam as condições para viver com dignidade e muitas vezes nem são ouvidos por àqueles que deveriam ter mais responsabilidade com os camponeses e camponesas. Lutar pela vida no campo significa lutar para mudar a realidade do campo.

A Oficina, além de muito proveitosa para aprofundar nossos estudos, proporcionou trocas de experiências e assim passamos a conhecer melhor nossos companheiros e companheiras de estudo e as companheiras do MMC. Este dia de estudos e debates promovido pelo Projeto Residência Agrária Jovem foi de muitos ganhos e aprendizagens !!!

Texto escrito por: Layany Correia Barbosa – equipe de comunicação do NT DF SUL

1°Oficina do NT DF SUL sobre Arte, Cultura e Teatro

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Foi realizado no sábado, 15 de agosto de 2015, no centro de formação do assentamento Gabriela Monteiro a I Oficina do Núcleo Territorial DF SUL sobre Arte, cultura e teatro. A Oficina integra um conjunto de atividades do primeiro ciclo de formação do curso Residência Agrária Jovem da UNB, denominado: ”Memória e História”. A oficina contou com a participação de aproximadamente 35 pessoas, sendo em sua maioria jovens dos assentamentos de Luziânia, Padre Bernardo e Brazlandia.
Nessa oficina foram realizados jogos, dinâmica, exercícios para exercitar a voz, os movimentos faciais, a expressão corporal. Realizaram-se jogos em duplas, em grupos e em coletivo, representando imagens e situações de imagens de opressão.

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E no final da oficina cada grupo apresentou uma cena de teatro que a ideia era chegar ao ponto de ir trabalhando e construindo por meio do teatro iniciativas pedagógicas que desperte a consciência crítica dos/as jovens sobre situações de opressão. Para esta oficina tivemos o apoio de representantes do grupo de teatro Terra em cena.
Os jovens e as jovens avaliaram que a oficina foi muito proveitosa, no sentido da oportunidade de conhecer o mundo do teatro e da importância desta ferramenta para as lutas populares para expressar a vida dos/das jovens e do campo deste Núcleo Territorial.

Texto: Raiane da Silva Gomes e Ariadni Rocha

Equipe de comunicação NT DF SUL